quarta-feira, 18 de junho de 2008










O termo máscara vem do árabe, língua na qual se pronuncia maskhara, como o fazem até hoje os Caretas de Reisado dos sertões cearenses. Na Grécia antiga chamava-se prosopa e no latim, persona. No mundo lusófono toma muitos outros nomes, como caretas, caretos, cabeções, carrancas etc.
É traço recorrente na história da humanidade, aparecendo em quase todas as culturas, desde épocas imemoriais, seja como adereço mágico, nas pinturas rupestres representando rituais de caça, seja como maquiagem facial (pinta-se a máscara no próprio rosto), no teatro contemporâneo.
Acompanha os seres humanos em todas as fases da vida, desde a infância até a morte, seja nas brincadeiras infantis, nos rituais de iniciação e passagem, nas festas e folguedos ou nas cerimônias mortuárias.
Pode tomar as formas mais diversas e utilizar os mais diferentes materiais, desde a cabeça de animais, passando por tecidos vegetais, até esculturas metálicas, a partir da mais livre imaginação ou da forma do próprio rosto. Portadas na face, na mão, na cintura, cobrindo o corpo inteiro ou, até mesmo um conjunto de pessoas, a máscara é sempre um objeto de arte, tanto no universo plástico, quanto no universo cênico.
Seu significado é dado a partir de um determinado contexto cultural, tanto como parte da festa, quando do cotidiano social. Neste último espaço, se pode dizer de uma dada aparência física como máscara social. Fala-se, inclusive, no rosto humano como espelho (no sentido de máscara da alma), embora se diga que “quem vê cara não vê coração”.
Conforme o contexto, suas funções são as mais variadas. Via de comunicação com os deuses, incorporação de entidades, encantamento e passagem para outras dimensões do real nas religiões populares, disfarce, fingimento ou imitação na cultura clássica, a máscara tanto pode revelar, quanto esconder. Objeto mágico, ícone sagrado ou simples adereço festivo, perseguida durante a Santa Inquisição como instrumento de heresia, a máscara é sempre um enigma a ser decifrado.
Alguns dos teatros mais tradicionais da Ásia especializaram-se no uso das delas, desde a ópera chinesa, o Katakali indiano, o Kabukii japonês, até o Wayang Wong balinês, assim como a Comédia del’Arte européia. No universo lusófono a máscara aparece nos rituais religiosos, nos teatros, nas danças, nas festas e folguedos populares, especialmente no Carnaval, mas também no teatro Thiloli de São Tomé e Príncipe, nas mascaradas de inverno do Nordeste Transmontano português, no Toré e outros rituais indígenas, nas celebrações das religiões afro-brasileiras, nos festejos e ritos da Quaresma e nos Bois e Reisados brasileiros.
Penetrar no universo da máscara é sempre um desafio, tal sua relação com a cultura e a psique humana. Um desafio sedutor porque fonte de revelações acerca da alma e dos sentimentos humanos, bem como sobre as diferenciações culturais entre povos e continentes. Como tema de pesquisa, estudo e expressão artística, assim como de diálogo entre culturas, tem mostrado ser por demais fértil, para o avanço das relações entre povos e da investigação acerca da condição humana.
Como espaço de pesquisa, estudo e diálogo, escolhemos a comunidade de povos de língua portuguesa, por entendermos que congrega gentes que compartilham laços históricos e culturais em torno de interesses e preocupações convergentes, bem como reúne as principais etnias formadoras da cultura brasileira. Além de ter na língua, ou mesmo nas línguas portuguesas, um traço comum ao conjunto dos povos, a comunidade lusófona encerra uma diversidade de culturas, que permite trabalhar em um universo, rico em matrizes e matizes, revelador das diferenças e aproximações nas maneiras de viver e de se expressar do ser humano. Isto porque as artes e as máscaras, particularmente, são também uma língua propiciatória ao diálogo.
Oswald Barroso

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