quarta-feira, 18 de junho de 2008


Máscara Ibérica, Estação do Rossio - Lisboa
Foram cerca de 250 mil pessoas que visitaram a exposição Máscara Ibérica na Estação do Rossio. Para além da maior mostra de tradições relacionadas com o uso da máscara, durante dois meses esteve ao dispor um vasto e rico programa de animação turístico-cultural dinâmico e altamente diferenciador a que ninguém ficou indiferente.
Foram dedicados fins-de-semana a Câmaras Municipais e Associações, que encontraram no nosso convite uma oportunidade única de promoção da sua região. Artesanato, produtos regionais, degustação dos mesmos, artesãos e várias animações ao vivo, de Gaiteiros, Pauliteiros, Caretos, Diabos e Matrafonas de Vinhais garantiram a satisfação dos vários visitantes e o sucesso da sua permanência nesta exposição tendo sido contabilizado uma média de 8000 visitantes por fim-de-semana.









O termo máscara vem do árabe, língua na qual se pronuncia maskhara, como o fazem até hoje os Caretas de Reisado dos sertões cearenses. Na Grécia antiga chamava-se prosopa e no latim, persona. No mundo lusófono toma muitos outros nomes, como caretas, caretos, cabeções, carrancas etc.
É traço recorrente na história da humanidade, aparecendo em quase todas as culturas, desde épocas imemoriais, seja como adereço mágico, nas pinturas rupestres representando rituais de caça, seja como maquiagem facial (pinta-se a máscara no próprio rosto), no teatro contemporâneo.
Acompanha os seres humanos em todas as fases da vida, desde a infância até a morte, seja nas brincadeiras infantis, nos rituais de iniciação e passagem, nas festas e folguedos ou nas cerimônias mortuárias.
Pode tomar as formas mais diversas e utilizar os mais diferentes materiais, desde a cabeça de animais, passando por tecidos vegetais, até esculturas metálicas, a partir da mais livre imaginação ou da forma do próprio rosto. Portadas na face, na mão, na cintura, cobrindo o corpo inteiro ou, até mesmo um conjunto de pessoas, a máscara é sempre um objeto de arte, tanto no universo plástico, quanto no universo cênico.
Seu significado é dado a partir de um determinado contexto cultural, tanto como parte da festa, quando do cotidiano social. Neste último espaço, se pode dizer de uma dada aparência física como máscara social. Fala-se, inclusive, no rosto humano como espelho (no sentido de máscara da alma), embora se diga que “quem vê cara não vê coração”.
Conforme o contexto, suas funções são as mais variadas. Via de comunicação com os deuses, incorporação de entidades, encantamento e passagem para outras dimensões do real nas religiões populares, disfarce, fingimento ou imitação na cultura clássica, a máscara tanto pode revelar, quanto esconder. Objeto mágico, ícone sagrado ou simples adereço festivo, perseguida durante a Santa Inquisição como instrumento de heresia, a máscara é sempre um enigma a ser decifrado.
Alguns dos teatros mais tradicionais da Ásia especializaram-se no uso das delas, desde a ópera chinesa, o Katakali indiano, o Kabukii japonês, até o Wayang Wong balinês, assim como a Comédia del’Arte européia. No universo lusófono a máscara aparece nos rituais religiosos, nos teatros, nas danças, nas festas e folguedos populares, especialmente no Carnaval, mas também no teatro Thiloli de São Tomé e Príncipe, nas mascaradas de inverno do Nordeste Transmontano português, no Toré e outros rituais indígenas, nas celebrações das religiões afro-brasileiras, nos festejos e ritos da Quaresma e nos Bois e Reisados brasileiros.
Penetrar no universo da máscara é sempre um desafio, tal sua relação com a cultura e a psique humana. Um desafio sedutor porque fonte de revelações acerca da alma e dos sentimentos humanos, bem como sobre as diferenciações culturais entre povos e continentes. Como tema de pesquisa, estudo e expressão artística, assim como de diálogo entre culturas, tem mostrado ser por demais fértil, para o avanço das relações entre povos e da investigação acerca da condição humana.
Como espaço de pesquisa, estudo e diálogo, escolhemos a comunidade de povos de língua portuguesa, por entendermos que congrega gentes que compartilham laços históricos e culturais em torno de interesses e preocupações convergentes, bem como reúne as principais etnias formadoras da cultura brasileira. Além de ter na língua, ou mesmo nas línguas portuguesas, um traço comum ao conjunto dos povos, a comunidade lusófona encerra uma diversidade de culturas, que permite trabalhar em um universo, rico em matrizes e matizes, revelador das diferenças e aproximações nas maneiras de viver e de se expressar do ser humano. Isto porque as artes e as máscaras, particularmente, são também uma língua propiciatória ao diálogo.
Oswald Barroso

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Muana Puó - Enigma e transformação

Muana Puó - Enigma e transformaçãoSuzana Rodrigues Pavão Pesquisadora (PUC - Minas Gerais)
A obra Muana Puó, foi escrita em 1969, em plena época de luta pela liberdade nacional. Talvez venha a chocar alguns leitores que tenham conhecimento das obras posteriores de Pepetela. Em particular, a linguagem simbólica, hermética, foge ao estilo que mais tarde foi escolhido pelo autor, mas assa narrativa transmite uma mensagem que até nos dias de hoje tem a sua razão de ser. Os morcegos, guerrilheiros, clandestinos a viver na escuridão, tornam-se homens, graças à sua heróica luta pela independência. Mas o presente continua a ser apenas um ponto de encontro e de luta, entre o passado e o futuro. Segundo o autor, cabe aos homens tomarem as decisões.A máscara enigma, a busca da transformação. Muana Puó, máscara ritualística tchokuê, torna-se personagem do texto d~ apresentada de forma simbólica para caracterizar os dominadores e dominados. Personagens simbólicos como os corvos e morcegos demonstram as lutas em busca da liberdade. Cada capítulo inicia-se com uma descrição da máscara a demonstrar o símbolo da tradição que comporá um novo povo, agora livre e uma nova Angola, independente.A heroína, marcada por seu enigma a ser decifrado para se conseguir a transformação da realidade de todo um povo, lembra um herói a ansiar por momentos de felicidade que possa partilhar, pois agora já não interessa o futuro, tudo é presente. Os edificadores da utopia não devem esquecer-se do aviso de grande lucidez, pois o presente é antes de tudo um ponto de encontro e de luta, entre o passado e o presente.A narrativa é simbólica e ao mesmo tempo metafórica e nos apresenta através do ser masculino a participar do ritual com a máscara feminina, a presença da força do ser feminino e ao mesmo tempo feminino. É a humanidade presente, é a busca do mundo futuro contrapondo-se com o passado marcado pelo presente que se espera transformar.

Suzana Rodrigues Pavão Pesquisadora (PUC - Minas Gerais)

Projeto


Realização de uma Exposição de Mascaras Lusófonas tradicionais, com leitura e releitura das máscaras, nos mais diversos campos artísticos, como fotografia, artes visuais, artes plásticas, cinema e artes cênicas contemporâneas.