segunda-feira, 21 de julho de 2008


Máscaras da Ásia
Enquanto as máscaras africanas e da Oceânia tiveram desde sempre direito a numerosas exposições e publicações no Ocidente, as máscaras asiáticas são ali muito pouco conhecidas. A moda das primeiras está ligada ao entusiasmo de artistas modernos como Picasso que viram nelas uma fonte de inspiração (cf. Les Demoiselles d’Avignon), de surrealistas como André Breton e a estudos de etnólogos que permitiram uma melhor compreensão do seu significado e das suas funções.

Além disso, os Europeus, ao partilharem a África e a Oceânia, puderam utilizá-las livremente. Essas condições nunca se verificaram na Ásia, donde a ignorância neste domínio, pese embora algumas excepções. No entanto, ainda que as máscaras asiáticas estejam muitas vezes ligadas a ritos religiosos que tendem a cair em desuso no mundo moderno, em particular nas grandes cidades, as máscaras continuam a fazer parte das culturas asiáticas vivas, tanto mais que foram retomadas por géneros de teatro mais ou menos desembaraçados da sua origem religiosa.

A Colecção Kwok On da Fundação Oriente que engloba cerca de 500 máscaras, permitiu organizar em 2007, na Abadia de Daoulas, em França, a primeira grande exposição de máscaras asiáticas no Ocidente a fim de mostrar a variedade e a sua beleza estética. A presente exposição de mais de duas centenas de máscaras da Índia, Sri Lanka, Tailândia, Indonésia, Tibete, China, Coreia e Japão permite já fornecer uma ideia da sua diversidade.

As máscaras que se apresentam são, com efeito, muito diversas e feitas de materiais muito diversificados; algumas são esculpidas em madeira, outras em papier mâché, outras ainda são feitas de tecido ou de metal. Algumas cobrem toda a cara e são em três dimensões, como as máscaras chinesas de dixi e a de Okina, no Japão, outras são espalmadas, como muitas das máscaras tibetanas do teatro laico, outras ainda são máscaras-capacetes em que entra toda a cabeça, como as do tetaro khôn da Tailândia. A sua função é a de dar uma imagem quer de seres divinos ou demoníacos, não humanos, quer de animais, míticos ou não, que intervêm nos rituais ou nas peças, quer ainda de tipos sociais, muitas vezes para sublinhar os traços no limite da caricatura, como no kôlam do Sri Lanka, nos sainetes coreanos ou em certas procissões japonesas. Usam-se em cerimónias religiosas, sobretudo em rituais de exorcismo, e nos teatros cujas representações deixaram de ter carácter religioso. Mais importante é a sua qualidade estética capaz de atrair o olhar mesmo daqueles que nada conhecem das culturas asiáticas. As máscaras decoradas de plumas do chauu de Purulia, na Índia, as máscaras do Sri Lanka, as do topeng de Bali, as do nuoxi da China, as do nô do Japão são exemplos de objectos que deveriam fazer parte da História da Arte.

Convite


domingo, 20 de julho de 2008

Máscaras são tema de encontro no TJA


O Projeto Encontro Lusófono de Máscaras foi lançado, ontem, no Theatro José de Alencar (TJA), com exposição aberta ao público, além de aula espetáculo e projeção de imagens de máscaras luso-afro-brasileiras. As atividades são uma prévia do encontro que acontece em abril de 2009, na Capital cearense, reunindo artistas e peças de países da comunidade de língua portuguesa.A exposição de máscaras lusófanas tradicionais chama atenção pela variedade de cores e expressões das peças, algumas confeccionadas pelo artista plástico Luiz Lemos, do município de Jardim, e outras pertencentes à coleção do teatrólogo e pesquisador Oswald Barroso, que coordena o projeto ao lado da produtora cultural Thais Andrade e do fotógrafo Alex Hermes.Sob uma intensa luz alaranjada, as máscaras, de diversos tamanhos e materiais, parecem explicar os sentimentos de quem as confecciona. “Sempre trabalhei com óleo sobre tela e esculturas monumentais. Depois que me envolvi com o Festival de Karetas de Jardim, despertei a curiosidade pelas máscaras, que hoje representam uma nova linguagem artística para mim”, disse o artista plástico Luiz Lemos.Aula espetáculoCinco atores, com diferentes máscaras representando expressões distintas, recebem ensinamentos cênicos no palco. Essa foi a atividade desenvolvida pelo ator e diretor Cláudio Ivo no lançamento do Encontro Lusófono. “Utilizo técnicas do exercício da sala de aula no palco, com presença da platéia. O espetáculo tem influências da Comédia Del’Art, mesclamos elementos mais clássicos com culturas populares”.

fonte: Diario do Nordeste

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Lançamento do Encontro Lusófono de Mascaras

O Lançamento do Encontro Lusófono de Mascaras foi a maneira encontrada pelos coordenadores do projeto, o sociólogo e pesquisador Oswald Barroso, a produtora cultural Thais Andrade e o fotógrafo Alex Hermes, para apresentar para jornalistas, empresários, pesquisadores, artistas, estudantes e o publico em geral um pouco da grandiosidade do Encontro, que será realizado em Abril de 2009 e contará com a presença de representantes de alguns países da comunidade da língua portuguesa.

O Encontro Lusófono de Mascaras consiste na realização de uma Exposição de Mascaras Lusófonas Tradicionais; uma Exposição sobre leituras e releituras das máscaras, nos mais diversos campos artísticos, como fotografia, artes visuais, artes plásticas, cinema e artes cênicas contemporâneas; um ciclo de debates sobre o tema máscaras lusófonas, trazendo especialistas para debater o assunto a partir dos mais diferentes pontos de vista, sejam artísticos, antropológicos, cênicos, psicanalíticos; uma programação de espetáculos cênicos em que as máscaras tenham pleno uso, seja nos campos do circo, da performance, da brincadeira infantil, das festas e folguedos, do jogo, do teatro e da dança; uma programação de oficinas de confecção de mascaras de gesso, folhagem e cabaça e oficina de utilização de mascaras da Comédia Del´Arte; uma mostra de filmes que tratem do tema das mascaras e a produção de um catálogo sobre o evento.

O Encontro Lusófono de Máscaras pretende trazer para pesquisadores, estudiosos, brincantes e artistas, a reflexão acerca da Máscara, um adereço que acompanha os seres humanos em todas as fases da vida, desde a infância até a morte, seja nas brincadeiras infantis, nos rituais de iniciação e passagem, nas festas e folguedos ou nas cerimônias mortuárias, utilizando como espaço de pesquisa as comunidades de língua portuguesa.

O projeto foi contemplado pelo edital Mecenas da Secult (Lei Estadual n 13.811) e se encontra em fase de aprovação na Lei Rouanet (Lei Federal n 8.313).

O Encontro Lusófono de Mascaras tem o apoio do Theatro José de Alencar, do Centro Cultural Banco do Nordeste, do Consulado de Portugal no Ceará, da Câmara Brasil-Portugal e também da Prefeitura Municipal de Jardim e da Associação dos Karetas através de Luís Lemos que confeccionou diversas mascaras para o lançamento do projeto.

Contato Coordenadores do Projeto

Thais Andrade

Diretora do Caldeirão das Artes Produções Artísticas

(85) 32530094 / 99977378

caldeiraodasartes@yahoo.com.br

Alex Hermes

(85) 32560084 / 88627608

alex.hermes@gmail.com

Oswald Barroso

(85) 32192923 / 99984299

oswaldba@ig.com.br

quarta-feira, 18 de junho de 2008


Máscara Ibérica, Estação do Rossio - Lisboa
Foram cerca de 250 mil pessoas que visitaram a exposição Máscara Ibérica na Estação do Rossio. Para além da maior mostra de tradições relacionadas com o uso da máscara, durante dois meses esteve ao dispor um vasto e rico programa de animação turístico-cultural dinâmico e altamente diferenciador a que ninguém ficou indiferente.
Foram dedicados fins-de-semana a Câmaras Municipais e Associações, que encontraram no nosso convite uma oportunidade única de promoção da sua região. Artesanato, produtos regionais, degustação dos mesmos, artesãos e várias animações ao vivo, de Gaiteiros, Pauliteiros, Caretos, Diabos e Matrafonas de Vinhais garantiram a satisfação dos vários visitantes e o sucesso da sua permanência nesta exposição tendo sido contabilizado uma média de 8000 visitantes por fim-de-semana.









O termo máscara vem do árabe, língua na qual se pronuncia maskhara, como o fazem até hoje os Caretas de Reisado dos sertões cearenses. Na Grécia antiga chamava-se prosopa e no latim, persona. No mundo lusófono toma muitos outros nomes, como caretas, caretos, cabeções, carrancas etc.
É traço recorrente na história da humanidade, aparecendo em quase todas as culturas, desde épocas imemoriais, seja como adereço mágico, nas pinturas rupestres representando rituais de caça, seja como maquiagem facial (pinta-se a máscara no próprio rosto), no teatro contemporâneo.
Acompanha os seres humanos em todas as fases da vida, desde a infância até a morte, seja nas brincadeiras infantis, nos rituais de iniciação e passagem, nas festas e folguedos ou nas cerimônias mortuárias.
Pode tomar as formas mais diversas e utilizar os mais diferentes materiais, desde a cabeça de animais, passando por tecidos vegetais, até esculturas metálicas, a partir da mais livre imaginação ou da forma do próprio rosto. Portadas na face, na mão, na cintura, cobrindo o corpo inteiro ou, até mesmo um conjunto de pessoas, a máscara é sempre um objeto de arte, tanto no universo plástico, quanto no universo cênico.
Seu significado é dado a partir de um determinado contexto cultural, tanto como parte da festa, quando do cotidiano social. Neste último espaço, se pode dizer de uma dada aparência física como máscara social. Fala-se, inclusive, no rosto humano como espelho (no sentido de máscara da alma), embora se diga que “quem vê cara não vê coração”.
Conforme o contexto, suas funções são as mais variadas. Via de comunicação com os deuses, incorporação de entidades, encantamento e passagem para outras dimensões do real nas religiões populares, disfarce, fingimento ou imitação na cultura clássica, a máscara tanto pode revelar, quanto esconder. Objeto mágico, ícone sagrado ou simples adereço festivo, perseguida durante a Santa Inquisição como instrumento de heresia, a máscara é sempre um enigma a ser decifrado.
Alguns dos teatros mais tradicionais da Ásia especializaram-se no uso das delas, desde a ópera chinesa, o Katakali indiano, o Kabukii japonês, até o Wayang Wong balinês, assim como a Comédia del’Arte européia. No universo lusófono a máscara aparece nos rituais religiosos, nos teatros, nas danças, nas festas e folguedos populares, especialmente no Carnaval, mas também no teatro Thiloli de São Tomé e Príncipe, nas mascaradas de inverno do Nordeste Transmontano português, no Toré e outros rituais indígenas, nas celebrações das religiões afro-brasileiras, nos festejos e ritos da Quaresma e nos Bois e Reisados brasileiros.
Penetrar no universo da máscara é sempre um desafio, tal sua relação com a cultura e a psique humana. Um desafio sedutor porque fonte de revelações acerca da alma e dos sentimentos humanos, bem como sobre as diferenciações culturais entre povos e continentes. Como tema de pesquisa, estudo e expressão artística, assim como de diálogo entre culturas, tem mostrado ser por demais fértil, para o avanço das relações entre povos e da investigação acerca da condição humana.
Como espaço de pesquisa, estudo e diálogo, escolhemos a comunidade de povos de língua portuguesa, por entendermos que congrega gentes que compartilham laços históricos e culturais em torno de interesses e preocupações convergentes, bem como reúne as principais etnias formadoras da cultura brasileira. Além de ter na língua, ou mesmo nas línguas portuguesas, um traço comum ao conjunto dos povos, a comunidade lusófona encerra uma diversidade de culturas, que permite trabalhar em um universo, rico em matrizes e matizes, revelador das diferenças e aproximações nas maneiras de viver e de se expressar do ser humano. Isto porque as artes e as máscaras, particularmente, são também uma língua propiciatória ao diálogo.
Oswald Barroso

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Muana Puó - Enigma e transformação

Muana Puó - Enigma e transformaçãoSuzana Rodrigues Pavão Pesquisadora (PUC - Minas Gerais)
A obra Muana Puó, foi escrita em 1969, em plena época de luta pela liberdade nacional. Talvez venha a chocar alguns leitores que tenham conhecimento das obras posteriores de Pepetela. Em particular, a linguagem simbólica, hermética, foge ao estilo que mais tarde foi escolhido pelo autor, mas assa narrativa transmite uma mensagem que até nos dias de hoje tem a sua razão de ser. Os morcegos, guerrilheiros, clandestinos a viver na escuridão, tornam-se homens, graças à sua heróica luta pela independência. Mas o presente continua a ser apenas um ponto de encontro e de luta, entre o passado e o futuro. Segundo o autor, cabe aos homens tomarem as decisões.A máscara enigma, a busca da transformação. Muana Puó, máscara ritualística tchokuê, torna-se personagem do texto d~ apresentada de forma simbólica para caracterizar os dominadores e dominados. Personagens simbólicos como os corvos e morcegos demonstram as lutas em busca da liberdade. Cada capítulo inicia-se com uma descrição da máscara a demonstrar o símbolo da tradição que comporá um novo povo, agora livre e uma nova Angola, independente.A heroína, marcada por seu enigma a ser decifrado para se conseguir a transformação da realidade de todo um povo, lembra um herói a ansiar por momentos de felicidade que possa partilhar, pois agora já não interessa o futuro, tudo é presente. Os edificadores da utopia não devem esquecer-se do aviso de grande lucidez, pois o presente é antes de tudo um ponto de encontro e de luta, entre o passado e o presente.A narrativa é simbólica e ao mesmo tempo metafórica e nos apresenta através do ser masculino a participar do ritual com a máscara feminina, a presença da força do ser feminino e ao mesmo tempo feminino. É a humanidade presente, é a busca do mundo futuro contrapondo-se com o passado marcado pelo presente que se espera transformar.

Suzana Rodrigues Pavão Pesquisadora (PUC - Minas Gerais)

Projeto


Realização de uma Exposição de Mascaras Lusófonas tradicionais, com leitura e releitura das máscaras, nos mais diversos campos artísticos, como fotografia, artes visuais, artes plásticas, cinema e artes cênicas contemporâneas.